Por Valter Jorge de Mesquita Borges - Membro da Ordem dos Economistas nº 13208
O progresso tecnológico que temos vindo a assistir desde o século XVIII teve inúmeras consequências económicas-sociais sendo responsável por um salto qualitativo no bem-estar do ser humano e por uma evolução nunca antes vista em áreas como a saúde, mobilidade, energia, produção industrial e consumo. Este progresso tecnológico materializou-se naquilo que chamamos de revolução industrial. Entre o século XVIII e século XIX observou-se a 1ª revolução industrial, que consistiu na substituição da produção artesanal (manufatura) pela máquinas e produção industrial (maquinofatura) e no aparecimento de novas formas de energia como o carvão que permitia a energia a vapor. A principal premissa da Primeira Revolução Industrial, foi que a substituição da mão-de-obra humano pelas máquinas permitiu um significativo aumento da produtividade da economia do momento e a industrialização da sociedade. A segunda revolução industrial ocorreu do século XIX ao XX e terminou durante a 2ª guerra mundial. A 2ª revolução industrial caracterizou-se pela continuação do processo de industrialização que teve início o século XVIII em Inglaterra, assistindo-se a avanços e aprimoramentos tecnológicos que deram origem ao aparecimento de novas indústrias, de onde se destacou a indústria química. Esta fase ficou marcada, pela substituição do vapor pelo petróleo, e pelo uso da eletricidade, para além do começo da produção em massa. A produção em massa, foi preconizada pela famoso Henry Ford e foi reconhecida pela produção padronizada e escalonada que permitia a obtenção de economias de escala, que por sua vez, trazia ganhos de produtividade e de redução de custos.
A 3ª revolução industrial, também conhecida por “a revolução digital” refere-se aos processos associados à passagem da evolução tecnológica industrial iniciada entre o começo dos anos 1950 e o final dos anos 1970, com o desenvolvimento da eletrónica digital, expansão do uso de computadores digitais, dos sistemas de automação industrial e da internet. Implicitamente, o termo também se refere às mudanças radicais trazidas pela tecnologia digital aplicada aos sistemas de manufatura, a partir da segunda metade do século XX. Por fim, vivemos atualmente a chamada 4ª revolução industrial ou “Indústria 4.0” que engloba algumas tecnologias para automação e troca de dados como conceitos de Sistemas ciber-físicos, Internet das Coisas, e Computação em Nuvem. O foco da Quarta Revolução Industrial é a melhoria da eficiência e produtividade dos processos e o início da utilização da Inteligência Artificial nos processos e produtos.
Em foco neste documento está como o progresso tecnológico assistido desde século XVIII até ao século XXI, chegou ao ponto de descobrirmos a Inteligência Artificial. A Inteligência Artificial (IA) é talvez a tecnologia que define a última década, e traduz-se na capacidade de uma máquina para reproduzir competências semelhantes à do ser humano, como é o caso do raciocínio, a aprendizagem, o planeamento e a criatividade, isto é, de se comportar com inteligência. A IA permite às máquinas ou robôs, que analisem o ambiente que as rodeia, percebam e resolvam problemas como se de um ser humano se tratasse. Através da recolha massiva de informação já preparada ou recolhida através dos seus próprios sensores, ou câmaras, as máquinas processam essa informação e respondem a várias questões do nosso quotidiano.
O baixo crescimento da produtividade nos últimos anos não decorreu de um esgotamento de ideias, mas, ao contrário, da dificuldade de combinar de forma eficiente o grande número de ideias que tem sido gerado. O otimismo dos investigadores em relação ao impacto da IA sobre o crescimento económico vem do fato de que as novas tecnologias têm grande capacidade de fazer essas recombinações de forma eficiente em grande escala. Vários estudos recentes têm procurado estudar o impacto da IA sobre o crescimento económico e mercado de trabalho, infelizmente ainda existe muita incerteza em relação a esta possível correlação. A grande maioria dos estudos efetuados pelos economistas enfatizam que a IA vai ter um grande impacto económico. Em termos práticos, os desenvolvimentos recentes da IA irão acelerar o crescimento global anual de 4% (média das últimas décadas) para uma faixa entre os 4% e 6%. Se podemos ter certezas de que a IA terá impactos muito positivos no crescimento económico, na produtividade, e no aumento da riqueza, também é expectável que a riqueza gerada tenderá a ser concentrada, quer nas empresas e nos países que tomam a dianteira na adoção destas tecnologias, quer nos trabalhadores mais qualificados, acentuando as assimetrias na distribuição do rendimento. Por fim, prevê-se que o crescimento económico advindo da aplicação da IA, não irá prejudicar visivelmente o mercado de trabalho. Com a emergência da IA, algumas funções se tornarão obsoletas e desnecessárias e outras surgirão de apoio à aplicação da IA na produção de bens e serviços. Não se considera, à primeira vista, que a IA, a par, de outros progressos tecnológicos surgidos anteriormente que vai destruir empregos ou gerar desemprego maciço na economia.
Iremos descrever neste ponto, em primeiro lugar, o que é, como funciona e como evoluiu a Inteligência Artificial, para depois, explorarmos as suas implicações no mercado de trabalho e sua influência sobre o crescimento económico.
A Inteligência Artificial (IA) é talvez a tecnologia que define a última década, e traduz-se na capacidade de uma máquina para reproduzir competências semelhantes à do ser humano, como é o caso do raciocínio, a aprendizagem, o planeamento e a criatividade. A IA permite que os sistemas técnicos percebam o ambiente que os rodeia, lidem com o que percebem e resolvam problemas, agindo no sentido de alcançar um objetivo específico. O computador recebe dados (já preparados ou recolhidos através dos seus próprios sensores, por exemplo, com o uso de uma câmara), processa-os e responde.
O desenvolvimento da Inteligência Artificial pode ser agrupado em três ondas diferentes, segundo a sua evolução cronológica, o que facilita para quem está a ler como a IA evoluiu até ao presente. A primeira onda, refere-se ao que se designa de “IA Simbólica” que são abordagens para o desenvolvimento de máquinas inteligentes, codificando o conhecimento e a experiência de especialistas em conjuntos de regras que podem ser executadas pela máquina. Esta IA é descrita como simbólica porque faz uso de raciocínio simbólico para representar e resolver problemas. Esta foi a principal abordagem para aplicações de IA entre as décadas de 1950 e 1990, mas, embora outras abordagens dominem o campo hoje, a IA simbólica ainda é usada em muitos contextos, desde termostatos até robótica avançada.
Relativamente à segunda onda de IA, esta refere-se à machine learning e IA orientada por dados (data-driven). A machine learning, refere-se a um amplo espectro de técnicas que automatizam o processo de aprendizagem de algoritmos. Esta abordagem difere da primeira onda, porque as melhorias no desempenho só são alcançadas por humanos que ajustam ou acrescentam conhecimentos que são codificados diretamente no algoritmo. Embora os conceitos por detrás desta abordagem sejam tão antigos como a IA simbólica, só foram aplicados extensivamente depois da viragem do século, altura em que inspiraram o atual ressurgimento deste campo. No Machine Learning (ML), o algoritmo geralmente melhora por alimentação dos próprios dados. Por esta razão, falamos sobre IA baseada em dados. As aplicações práticas dessas abordagens realmente explodiram na última década. Embora os métodos em si não sejam particularmente novos, o factor-chave nos avanços recentes no ML é o aumento maciço na disponibilidade de dados. O tremendo crescimento da IA orientada por dados é, em si, orientado por dados. Normalmente, os algoritmos de ML encontram suas próprias maneiras de identificar padrões e aplicam o que aprendem para fazer declarações sobre os dados. Diferentes abordagens de ML são adequadas para diferentes tarefas e situações e têm diferentes implicações.
As abordagens anteriores, podem ser descritas como a IA “fraca” ou “estreita” no sentido que elas se comportam de forma inteligente em nichos ou em domínios específicos como em jogos de Xadrez ou Reconhecimento do rosto de um gato. Deste modo, à terceira onda de IA, diz respeito a uma onda ainda especulativa e que caminha em direção à Superinteligência Artificial ou IA “forte”. A Superinteligência Artificial (SIA), está mais próxima da compreensão e inteligência humana, pois se refere a algoritmos que podem exibir inteligência em uma ampla gama de contextos e espaços de problemas. Se a IA fraca já é bastante avançada em contextos específicos, tendo capacidade de resolver problemas e de tomada de decisão com base em algoritmos, a SIA proporcionaria um novo paradigma de capacidade. No entanto, como ainda não existe, pertence ao domínio da IA especulativa.
No momento, estamos perante uma encruzilhada, apesar de termos a noção das oportunidades e desafios que decorrem da IA, estamos longe de uma situação satisfatória. É difícil ainda descortinar e compreendermos como a automação em geral, e a IA e a robótica em particular, impactam o crescimento económico e mercado de trabalho.
Relativamente ao crescimento económico, a maioria dos estudos enfatizam que a IA tem um elevado impacto económico. Segundo a investigação efetuada pela consultora Accenture, que cobre 12 economias desenvolvidas, prevê que a IA pode duplicar as taxas de crescimento anuais do PIB até 2035. Um estudo da PricewaterhouseCoopers (PwC), estima que PIB mundial pode aumentar 14% até 2030 em resultado da adoção e desenvolvimento da IA na economia. O relatório prevê que a próxima onda de revolução digital será desencadeada com a ajuda dos dados gerados pela Internet das Coisas (IoT), que serão provavelmente muitas vezes superiores aos dados gerados pela atual “Internet das Pessoas”. Irá impulsionar a normalização e consequentemente a automatização, bem como potenciar a personalização de produtos e serviços. A PwC vê dois canais principais através dos quais a IA terá impacto na economia global. A primeira envolve a IA que conduz a ganhos de produtividade no curto prazo, com base na automatização de tarefas rotineiras, o que provavelmente afetará sectores de capital intensivo, como a indústria transformadora e os transportes. Isto incluirá o uso prolongado de tecnologias como robôs e veículos autónomos. A produtividade também melhorará devido às empresas complementarem e ajudarem a sua força de trabalho existente com tecnologias de IA. Eventualmente, o segundo canal – a disponibilidade de produtos e serviços personalizados e de maior qualidade melhorados pela IA – tornar-se-á ainda mais importante, uma vez que esta disponibilidade provavelmente aumentará a procura dos consumidores, o que, por sua vez, geraria mais dados.
Para outros economistas, a maior aplicação da IA na economia vai ter um impacto limitado no crescimento económico. De acordo, com estes economistas, mesmo os setores mais tecnológicos e que apresentam maiores taxas de crescimento da produtividade, estão a apresentar uma taxa de crescimento cada vez mais reduzidas, num contexto de progresso tecnológico acelerado. A este fenómeno, os economistas chamam de “paradoxo da produtividade”. Apesar do progresso tecnológico e maior potencial de inovação que pode ser trazido pela incorporação da IA nos processos, produtos e serviços transacionados, algumas áreas da economia vão ser difíceis de impulsionar, por estarmos a atingir um ponto de maturidade da tecnologia. Este amadurecimento do progresso tecnológico implica um impacto limitado da IA na produtividade e crescimento. Uma possível explicação para isto é que a difusão das capacidades da IA que podem estimular a produtividade permanece limitada. Mesmo com a sua ampla aceitação, o seu pleno efeito só poderá materializar-se com as subsequentes ondas de inovações complementares.
O efeito da IA sobre a economia, será segundo vários estudos, transversal. A Inteligência Artificial está definida para se tornar parte integrante do crescimento futuro em todos os setores. A sua capacidade de aumentar a eficiência, melhorar a tomada de decisões e personalizar as experiências dos clientes posiciona-a como uma força transformadora. A adoção da IA conduzirá ao desenvolvimento sustentável e desbloqueará novas possibilidades de inovação e progresso em vários setores. O potencial da IA para transformar as indústrias é vasto e cabe às empresas e à sociedade aproveitar o seu poder de forma responsável e ética.
Ao longo da história, o aparecimento de novas tecnologias — da eletricidade à Internet — alterou a natureza do trabalho. Essa evolução trouxe grandes benefícios para a nossa sociedade e para a economia, mas levantou algumas preocupações. O aparecimento da automatização, da robótica e da IA está a transformar o mercado de trabalho, como tal, precisamos gerir esta mudança. Se por um lado, a crescente aplicação da IA na economia e setor industrial irá provocar criação de emprego, derivada dos setores que procuram trabalhos relacionados com a IA, por outro, irá criar também, destruição de emprego, principalmente por via da substituição da mão-de-obra humana pela tecnologia. Não existe, por enquanto, consenso entre os especialistas, o efeito pode ser consideravelmente positivo ou devastador. Segundo o Bruegel, um “think tank” belga, o progresso tecnológico irá criar o risco de computorização de 54% dos trabalhos nos próximos 20 anos. Parece haver um consenso entre os investigadores de que haverá mudanças significativas na força de trabalho em todos os sectores da economia, acompanhadas por mudanças na natureza e no conteúdo dos empregos, o que exigirá requalificação dos trabalhadores. Para além disso, a Polarização do Emprego será provável: os empregos de salário baixo, que requerem normalmente trabalhos manuais rotineiros e competências essencialmente cognitivas têm maior probabilidade de serem substituídas pela IA e automatização, enquanto os empregos mais bem pagos, e de elevadas qualificações, e que normalmente se baseiam em competências cognitivas não rotineiras, terão mais procura. Com base nos padrões encontrados nas anteriores Revoluções Industriais, a destruição de emprego será mais evidente no curto e médio prazo, enquanto a criação de emprego irá prevalecer no longo prazo.
No entanto, as relações laborais podem alterar-se, com mudanças de emprego mais frequentes e um aumento do trabalho precário, do trabalho por conta própria e do trabalho por conta de outrem, o que possivelmente enfraquecerá os direitos dos trabalhadores, bem como o papel dos sindicatos. Os efeitos disruptivos da IA podem também influenciar os salários, distribuição de rendimento e desigualdade económica. A crescente procura de trabalhadores altamente qualificados, capazes de utilizar a IA, poderá aumentar os seus salários, enquanto muitos outros poderão enfrentar uma redução salarial ou desemprego. Isto poderá afetar até mesmo os trabalhadores com qualificações médias, cujos salários podem ser reduzidos pelo facto de os trabalhadores altamente qualificados não só serem mais produtivos do que eles graças à utilização da IA, mas também serem capazes de realizar mais tarefas. As alterações na procura de trabalho poderão, portanto, piorar a distribuição global do rendimento, afetando o nível salarial dos trabalhadores.
A investigação sobre o impacto da IA no mercado trabalho aumentou substancialmente nos últimos anos. Acemoglu e Restrepo (2018) fornecem uma estrutura teórica para compreender o impacto das novas tecnologias no mercado de trabalho. Eles decompõem o efeito das novas tecnologias sobre o trabalho em três grandes efeitos: um efeito de substituição (substituição da mão-de-obra humana por máquinas ou robôs), um efeito de produtividade (ao reduzir-se o custo de produzir um conjunto de tarefas e conseguir-se fazer mais tarefas com menos recursos) e um efeito de reintegração (as novas tecnologias podem servir como uma plataforma para criar novas tarefas em muitas indústrias de serviços, onde o trabalho tem uma vantagem comparativa em relação às máquinas, aumentando a procura por trabalho). Frank e outros. (2019) classificam a literatura atual sobre as implicações da IA no mercado de trabalho em duas grandes categorias: uma perspetiva pessimista e uma perspetiva otimista. Os pessimistas acreditam que a substituição do trabalho pela IA prejudicará o emprego. Frey e Osborne (2013) estimam que 47% do emprego total nos EUA corre o risco de perder empregos devido à automação durante a próxima década. A sua investigação revela que uma percentagem substancial do emprego em profissões de serviços – onde ocorreu a maior parte do crescimento do emprego nos EUA nas últimas décadas – é altamente suscetível à digitalização e automação. Bowles (2014) utiliza o modelo de Frey e Osborne (2013) para estimar que 54% dos empregos na União Europeia (UE) estão em risco de informatização. Acemoglu e Restrepo (2017) fornecem um exemplo histórico de automação excessiva que afeta negativamente o mercado de trabalho devido à fraca produtividade e aos efeitos de reintegração, concluindo que as áreas nos EUA mais expostas à automação industrial nas décadas de 1990 e 2000 experimentaram efeitos negativos no emprego e salários.
Os otimistas acreditam que os efeitos de produtividade e de reintegração da IA serão mais do que suficientes para compensar o efeito de substituição. Alguns artigos de opinião preveem que a IA e a robótica irão criar até 90 milhões de empregos até 2025, indicando um forte impacto positivo no mercado de trabalho. O World Economic Forum concluiu em outubro de 2020 que que apesar de ser provável a IA eliminar 85 milhões de empregos globalmente até 2025, que também tem o potencial de gerar 97 milhões de novos empregos em áreas que vão desde big data, machine learning até cibersegurança e marketing digital.
No presente documento, apresentamos de forma bastante sucinta, as principais ideias e previsões da literatura económica sobre o efeito do rápido progresso tecnológico que estamos a viver e que iremos observar na próxima uma ou duas décadas assente na inteligência artificial (IA). A aplicação generalizada de uma forma mais profunda da IA terá um impacto não negligenciável no crescimento económico e terá implicações no mercado de trabalho que valem a pena explorar. Quanto ao crescimento económico, segundo a literatura mais recente, existem simultaneamente visões otimistas e pessimistas sobre o tema. Segundo, os otimistas, a incorporação do progresso tecnológico, trazido pela emergência da aplicação da IA na economia, tem potencial para criar crescimento económico acima da média atual. O estudo da PwC indica que o PIB mundial pode aumentar 14% até 2030 em resultado da adoção da IA. Este crescimento acima do normal que pode ser atingido é conseguido devido a três fatores: o aumento da produtividade no trabalho devido às inovações tecnológicas e melhor gestão da informação fornecida por dados; criação de uma força de trabalho virtual capaz de resolver problemas e de autoaprendizagem; e, ainda, a economia irá beneficiar da difusão da inovação que irá afetar vários setores e criar novas fontes de receita. Para os economistas mais pessimistas, a aceleração da transição digital e aplicação prática da IA no mundo real, não trará um crescimento acima da média observada na última década porque vivemos aquilo que os economistas chamam “paradoxo da produtividade”. Na verdade, estamos em uma fase de amadurecimento tecnológico, como tal, apesar das vantagens óbvias trazidas pela IA, como o aumento produtividade e efeitos de extravasamento da inovação pela economia, estas são limitadas e de carácter apenas incremental.
Tal como acontece com o crescimento económico, o resultado de uma maior aplicação da IA na economia real, pode segundo os artigos mais recentes, ter um efeito significativamente positivo ou consideravelmente negativo no mercado de trabalho. Alguns economistas referem que haverá mudanças significativas na força de trabalho em todos os sectores da economia, acompanhadas por mudanças na natureza e no conteúdo dos empregos, o que exigirá requalificação dos trabalhadores. De facto, segundo as correntes ideológicas mais pessimistas, o efeito de substituição da emergência da IA, isto é, a substituição da mão-de-obra humana por máquinas e robôs irá prevalecer o que provocará perdas de empregos. Como a aplicação da IA é transversal à economia, grande parte das tarefas rotineiras da indústria, comércio e serviços é suscetível de ser substituída por máquinas. Para os mais otimistas, a adoção da IA não traz apenas a substituição do emprego humano, traz também um efeito reintegração, onde as novas tecnologias podem servir como uma plataforma para criar novas tarefas onde o trabalho humano tem vantagem comparativa. O World Economic Forum concluiu recentemente que é possível observar-se à eliminação, a nível mundial, de 85 milhões de empregos globalmente até 2025, mas que, por outro lado, potencialmente pode gerar-se 97 milhões de novos empregos.
Em suma, partindo do princípio de que a incorporação da IA no sistema produtivo trará um efeito semelhante ao que temos vindo a assistir com a digitalização da economia, como a Internet das Coisas (IoT), Cloud Computing e Big Data, vamos poder ter uma economia a operar com menos custos, em tempo real e com mais informação que nos permitirá aumentar a produtividade. Todas estas vantagens óbvias para a sociedade, poderá ter alguns riscos associados com desaparecimento de empregos e maior desigualdade de rendimento, mas estes desafios podem ser mitigados por políticas públicas apropriadas. Assim, esta vaga tecnológica prevê-se que seja positiva para a economia da mesma forma que as anteriores revoluções industriais foram.
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