top of page
Buscar
  • Foto do escritorDRCA

A sorte de uns …


Por Jorge Fonseca de Almeida - Membro da Ordem dos Economistas nº 1083


É hoje manchete em alguns jornais europeus que o anúncio da Spotify do despedimento de um em cada cinco dos seus trabalhadores, ou seja de 20% da sua força de trabalho, implicou de imediato o aumento em mais de 9 milhões de euros os ganhos de Paul Vogel, o presidente da comissão executiva da empresa sediada em Estocolmo na Suécia. Por cada um dos 1.500 trabalhadores despedidos Paul Vogel ganhou cerca de 6.000 euros. É caso para dizer que a sorte de um é o azar de muitos.


Esta é, infelizmente, a lógica da sociedade atual, em que os gestores têm todo o incentivo em despedir, reduzir custos salariais e outros benefícios dos trabalhadores. Com esta lógica o rendimento concentra-se no topo e gera-se uma corrida para o fundo entre as sociedades que implementam este modelo social.


Longe vai o tempo, nos anos 60 do século passado, em que os países escandinávicos eram um farol de justiça social, um bastião da social-democracia ocidental, que promovia uma sociedade de menores desigualdades e de relativo bem-estar para os trabalhadores. Hoje, com o progressivo desmantelamento do Estado Social estes países apresentam índices de pobreza alarmantes.


A extrema-direita populista está a gradualmente a substituir a social-democracia como força política. Por exemplo na Suécia nas eleições de 2022 os Democratas Suecos, o partido da extrema-direita, obteve mais de 17% dos votos tendo elegido 73 deputados mais 11 do que nas eleições anteriores.


Como alertou Mário Centeno a desaceleração económica na zona Euro e em Portugal já se está a materializar num aumento do desemprego.


Nem a avalanche de fundos públicos comunitários, a famosa bazuca, consegue impedir que a manutenção de incentivos errados promova uma onda de despedimentos e de aumento de desemprego.


O volume verdadeiramente gigantesco destes fundos, se bem aplicados, levariam a um crescimento robusto do PIB, ao aumento do investimento, ao reforço da produtividade, dos salários e do emprego. No entanto a realidade é exatamente a oposta. O crescimento é anémico, o investimento não se materializa, os salários descem e o desemprego começa a aumentar. Como é possível?


A explicação está, sem dúvida, na errada alocação destes fundos públicos europeus, decidida pelo Governo e pelo não reforço dos mecanismos de controlo da fraude no seu uso. Também aqui a sorte de uns é o azar de muitos.


O PRR, foi-nos dito, era uma última oportunidade para modernizar a nossa economia. Falhou. Não teremos outra tão cedo.

88 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page