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As desculpas esfarrapadas e o Rei Nu que nos desgoverna


Por Jorge Fonseca de Almeida - Membro da Ordem dos Economistas nº 1083


Em Portugal os Governos, como alguns taxistas, adoram desculpas esfarrapadas, tratando os governados por tolos e parolos. Estes por seu turno seguem duas opções ou encolhem os ombros e continuam a sua vida ou partem para outras paragens. Poucos são os que dizem, sem papas na língua, que o Rei vai nu.


sta semana no semanário Voz de Trás-os-Montes, um dos melhores jornais do nosso país, temos mais uma prova desta tática dos nossos governantes. No jornal que mostra, com os números acabados de publicar pelo Instituto Nacional de Estatística, que a Região de Trás-os-Montes perdeu 34 mil habitantes na última década, a Secretária de Estado da Valorização do Interior declara ufana e satisfeita que "O Governo tem adotado medidas para promover a fixação de pessoas no interior". Os resultados são péssimos mas o governo em vez de reconhecer que as suas medidas não resultaram declara que tem vindo a atuar. Triste. Sinal claro que a região vai continuar a perder população a um ritmo alarmante - alguns concelhos perderam mais de 20% da população nos últimos 10 anos, outros acima de 15% e apenas as maiores cidades Vila Real e Bragança perderam menos de 10%, no primeiro caso 4% e no segundo 2%. Impressionante. Um interior cada vez mais desertificado, eis o resultado das medidas tomadas pelo Governo Costa. Cada vez que o Governo toma medidas o resultado é o inverso do pretendido. Mais valia estar quieto. Uma derrota em toda a linha do nosso país.

Soubemos pelos serviços da União Europeia, não pelo Governo, que a Roménia se presta para nos ultrapassar e que o nosso país já está na cauda da Europa e, a seguir a tendência, vai fixar-se como o país mais pobre da União. O Governo não anunciou medidas para reverter esta tendência, limitando-se a dizer que está a trabalhar para crescermos acima da média europeia. Desculpa esfarrapada, pois todos sabemos que se continuarmos a crescer acima da média mas abaixo dos que estão atrás de nós chegaremos rapidamente ao fundo da tabela (ver aqui). Cada vez que o Governo toma medidas o resultado é o inverso do pretendido. Mais valia estar quieto. Nova derrota em toda a linha do nosso país.

O Governo anuncia sorridente que temos a mão-de-obra mais qualificada de sempre. Nova desculpa esfarrapada porque nunca houve em lugar nenhum uma nova geração menos qualificada que a anterior. Esquece, contudo, de esclarecer de que é uma geração das menos qualificadas da Europa. Os seus esforços baldaram-se e o resultado continua insuficiente. Cada vez que o Governo toma medidas o resultado é o inverso do pretendido. Mais valia estar quieto. Nova derrota em toda a linha do nosso país.

Os ordenados da maioria dos portugueses são inferiores ao ordenado mínimo de grande número de países não permitindo fixar qualquer talento (ainda agora soube de uma empresa portuguesa a pretender contratar um Doutorado que trabalha no estrangeiro oferecendo-lhe um vencimento inferior ao ordenado mínimo do país onde mora!) mas o Governo proclama que os salários devem ser aumentados abaixo da inflação. Cada vez que o Governo toma medidas o resultado é o inverso do pretendido. Mais valia estar quieto. Nova derrota em toda a linha do nosso país.


O Governo anunciou uma bazuca com dinheiro público da União Europeia. Uma enorme verba - 15 mil milhões - para investir no crescimento da nossa economia. Para preparar o plano estratégico desta verba colossal escolheram uma única pessoa e deixaram de fora a sociedade portuguesa que os devia investir. Como seria de esperar o investimento está a avançar a passo de caracol e o crescimento para o próximo ano será mínimo senão mesmo negativo. Mas a culpa é da guerra. Uma desculpa esfarrapada e sem sentido quando se tem uma tal verba para investir. Cada vez que o Governo toma medidas o resultado é o inverso do pretendido. Mais valia estar quieto. Nova derrota em toda a linha do nosso país.


O racismo medra na sociedade, mas oficialmente não existe. Esta semana soubemos de uma creche onde a diretora e as funcionárias são acusadas de espancar crianças muito pequenas ao mesmo tempo que profiram os maiores insultos racistas. Soubemos também que os soldados da GNR que agrediam imigrantes pensam que estavam a fazer uma "brincadeira parva" e que era "uma vez sem exemplo" quando já tinham sido condenados pelos mesmos atos. E que mesmo condenados por uma vez e em julgamento pela segunda vez continuam ao serviço! O Governo garante que, desta vez, vai tomar medidas decretando o enésimo inquérito. Cada vez que o Governo toma medidas o resultado é o inverso do pretendido. Mais valia estar quieto. Nova derrota em toda a linha do nosso país.

As barracas e as favelas proliferam na orla das grandes cidades ou mesmo no seu interior, mas oficialmente não existem. Sempre que um dignitário da União Europeia, ou um estrangeiro importante, visita um desses bairros o Governo promete resolver o problema se a União Europeia para isso nos der o dinheiro, que nós, o Governo, já demos caminho aos impostos que recebemos e para mais não dá. Desculpa esfarrapada quando sabemos o quanto foi para os bancos, a TAP, a Efacec, a corrupção e tantos outros destinos inúteis. Cada vez que o Governo toma medidas o resultado é o inverso do pretendido. Mais valia estar quieto. Nova derrota em toda a linha do nosso país.

Costa tem o dom, como outros políticos portugueses de outros quadrantes, de transformar derrotas em vitórias. Essas são, contudo, vitórias de Pirro, vitórias da oratória, vitórias ocas que mais valia não existirem.

Infelizmente parte da comunicação social não questiona as desculpas esfarrapadas, nem confronta os governantes com os dados reais que comprovam a falta de eficácia das suas ações. O país continua apático e moribundo.

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