top of page
Buscar
  • Foto do escritorDRCA

Liberalismo ou Protecionismo


Por Jorge Fonseca de Almeida - Membro da Ordem dos Economistas nº 1083


A História económica mostra-nos que sempre que uma potência tem uma economia competitiva e forte promove o liberalismo por forma a inundar os mercados dos outros países com os seus produtos que, em geral, são melhores e mais baratos. Por outro lado as potências momentaneamente mais atrasadas têm vantagem no protecionismo que lhes permite proteger as suas empresas, dando-lhes o tempo necessário para se modernizarem. Em face do protecionismo as potências mais avançadas forçam, muitas vezes, os outros países a abandonar o protecionismo (a abrir-se) o que lhes garante uma dupla vantagem: o alargamento dos mercados para os seus produtos e a manutenção dos outros países num estádio de desenvolvimento inferior.


A crescente posição protecionista americana, que tem evoluído da imposição de taxas alfandegaria absurdamente elevadas iniciada por Trump, a medidas mais musculadas impostas por Biden, como proibição de investimento em certos países e sanções económicas, quer contra a Rússia e contra a China, mas também contra outros países, mostra a adaptação dos Estados Unidos ao novo panorama económico mundial.


Neste novo panorama os Estados Unidos deixaram já de ser a primeira economia mundial e estão em vias de se tornar apenas a terceira, quando num futuro não muito distante a Índia os ultrapassar. Nestas circunstâncias os Estados Unidos deixam de ter como alavanca principal do seu poder internacional a economia e ficam restritos à sua capacidade militar (mas com muito menos homens do que a China ou a Índia).


Daí a necessidade de exibir força militar em todas as questões e de resistir ao declínio económico fechando a sua economia.


Esta estratégia de Biden parece, contudo, não estar a resultar. No plano económico porque a elevada inflação tem criado uma situação de estagnação/recessão nos Estados Unidos e na sua zona de influência europeia. No plano militar porque apesar do elevado investimento em material, treino e apoio económico não parece estar a vencer a guerra contra a Rússia.


As recentes proibições de investimento norte-americano na China em três setores importantes: semicondutores e microeletrónica, tecnologias quantum e inteligência artificial, mostram a fraqueza dos EUA nestas áreas e a necessidade de protegerem as suas empresas da concorrência internacional. O mercado americano e as empresas americanas ficam assim cortadas do mercado chinês um dos mais dinâmicos nestas áreas. Por exemplo a grande maioria dos artigos científicos na área da inteligência artificial são produzidos por académicos chineses.


Vemos então que os americanos procuram contrariar o declínio económico com o aumento do militarismo e com o protecionismo. Esta nova estratégia vai moldar o campo das relações internacionais durante os próximos anos.

Mas o protecionismo não pode ser completo. Os EUA podem continuar a impor o liberalismo aos espaços sobre os quais têm vantagem tecnológica ou que ocupam militarmente. Este último caso é o que habitualmente se designa de "mundo livre" e incluiu a Europa, o Japão, a Coreia do Sul, a Austrália e os restantes países da América do Norte. Só na Alemanha os EUA possuam mais de 100 bases militares. Em contrapartida a Alemanha não tem nem uma na América.

Nesta estratégia o papel da Europa é o de seguidora e compradora. Seguidora na militarização e na hostilização da Rússia e da China e compradora em termos de se tornar destino principal das exportações americanas. É um papel sem autonomia estratégica em que as potências da chamada linha da frente vão ter maior apoio do que as potências da retaguarda, como Portugal.

No campo económico a Europa servirá para compensar a perda do mercado chinês em termos de exportações americanas e para assegurar um mercado cativo em termos de energia, tecnologias de informação, etc.. Com a imposição de gastos de 2% do PIB na defesa, servirá também para garantir um mercado enorme para as empresas de matéria de de guerra norte-americano. Este novo papel económico da Europa está a levar a um declínio económico e a um atraso tecnológico europeu (a Europa não consegue acompanhar a revolução digital e está completamente dependente do exterior nesta área).

Na estratégia de militarização é possível que se abra uma nova frente de guerra na Moldávia, na Sérvia ou na Bielorrússia. Novas frentes cada vez mais próximas de desencadear uma guerra à escala europeia.

*Economista, MBA. Autor de livros e artigos sobre Capital Social, Marketing, Fraude e Corrupção, Compliance e Corporate Governance. Consultor de gestão.

38 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page