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LIBERALISMO & ULTRALIBERALISMO E ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS


Por René António Cordeiro - Membro da Ordem dos Economistas nº 56


1. O Homem e a Natureza: o desafio do Equilíbrio

Uma das (poucas) vantagens em sermos velhos e (ainda) mantermos memória razoável, é não esquecermos a experiência que nos permite avaliar – com critérios decorrentes do que se apreendeu (do que se aprendeu) e da vida vivida – e ter um entendimento do mundo com âmbito mais vasto do que o presente.


1.1 Enquanto o humano aproveitou o que a Natureza lhe oferecia – caçando, colhendo – ela não reagia. Só agia quando a própria matéria de que era constituída tinha naturais sobressaltos. Se os seus frutos escasseavam, o humano ia mais longe, caçando e colhendo.


1.2 Quando o humano iniciou a senda de transformação da Natureza, que se iniciou, como sabemos, com a agricultura, iniciou-se a agressão da Natureza por causas a ela não imputáveis.


1.3 A partir do que se foi reforçando o que nos diz Jordan. B. Peterson: “Vivemos num quadro mental que define o agora como eternamente parco, e o futuro como eternamente melhor. Se não víssemos as coisas desta maneira não podíamos agir. Nem sequer podíamos ver, porque para ver temos de focar e, para focar, temos de escolher uma, em vez de outras ….Como é que podemos beneficiar da nossa imaginação, da nossa capacidade para melhorar o futuro, sem denegrir continuamente as nossas vidas actuais, sem valor e com insuficiente sucesso?”

Para mim, a resposta a esta questão é dada pela nossa incapacidade de sermos equilibrados, regulados.


2. A irracionalidade das conveniências do Presente


Em consequência, o humano vai mudando valores, regras, de acordo com as conveniências do presente. Três exemplos, apenas:


i) Sempre ouvi dizer, e observei pessoalmente, que a terra cultivada deve ser posta em pousio, de tempos a tempos. Porque a Natureza, tal como o humano, carece de descanso. Este, designada na lavoura por pousio, respeita as condições naturais da terra e as particularidades do que se produz. O que permite a recuperação da bioestructura local, maior profundidade de enraizamento e qualidade de nutrientes para um futuro plantio. Todavia, há tempos, agricultor em regime de cultura intensiva, moderno, dizia-me que tal descanso da terra já não era necessário devido à utilização de fertilizantes químicos;


ii) Jovens (alguns, e não só) manifestam-se sobre as alterações climáticas, revoltando-se perante a inércia dos decisores políticos. Todavia, cada um tem vários pares de sapatos de desporto – sapatilhas (parece-me que o nome já não é este) para correr, para caminhar, para fazer ginástica, para jogar ténis…Ao contrário, a minha geração, tinha um par de sapatos, uma par de sapatilhas e um para de botas para o Inverno, pijamas de flanela e dois pares de calças de cotim, sem agasalhos fabricados com produtos derivados de petróleo. E não existia bullying. Apenas umas escaramuças, uns agravos que desagravávamos sem recurso a psicólogo!


iii) Ouvi que partidos políticos propõem o voto aos 16 anos. Sempre ouvi, ouço, e sei que os adolescentes (cujo âmbito ainda inclui aquela idade) não sabem, têm dificuldade, com maior do que menor frequência, de fazer opções dos estudos a seguir. Mas poderão fazer opções (tomar decisões) sobre o governo do país – sobre a segurança, sobre a defesa, sobre as relações internacionais, sobre o sistema de reformas, sobre a morte clinicamente assistida…! Mas, o que pensam os pais que sustentam e educam estes adolescentes? Não são ouvidos porque os partidos os representam? Mas quem deveria representá-los (representar-nos) eram pessoas que, individualmente, independentemente dos partidos que representassem, explicassem em local próprio o que defendiam e propunham, ouvindo as perguntas e, eventualmente, as gargalhadas do auditório. E quais os critérios que fundamentam tal proposta? Não importam, porque, como nos ensina Schumpeter “À crítica política não se pode contrapor um argumento racional”. E este, sim, carece de critérios!


3. O Vicio desmesurado do Consumo


Como é possível tanta incapacidade de equilíbrio, de regras?

Pelo argumento do vendedor: sejam os agentes decisórios políticos ou empresariais, é através de promessas de felicidade eterna, de irradicação da pobreza, de maior funcionalidade, de novidade … que o argumento se impõe. E tudo sem esforço, sem trabalho, com mais lazer, mais entretenimento. E como a natureza humana é imutável, mas perturbável, influenciável, sugestionável….É assim que – e não só para dar a conhecer o “produto” – a publicidade é tão invasiva, massificada, inundando as nossas vidas até um ponto em que temos dificuldade de dela nos libertarmos: porque não nos dá descanso. Curiosamente, a profecia de 1984 aplicase particularmente ao mundo da comunicação em que os grandes actores empresariais operam de forma a puxar as pessoas a revelar os seus desejos, interesses, necessidades, explorando a sua natural propensão ao consumo. Poderse-á argumentar que assim acontecia antigamente nas lojas em que éramos clientes habituais quando, quem nos atendia, conhecia os nossos gostos. Mas tal acontecia apenas quando íamos à loja, sabendo a razão por que lá íamos! Hoje, contrariamente, o “nosso íntimo” está devassado a partir de qualquer conexão que façamos e que imediatamente produz uma invasão de fornecedores potenciais.


4. O Rendimento é que dita o consumo Existe, a meu ver, uma solução que trará equilíbrio e que considero básica: que a economia se sobreponha (de novo) às finanças. O que significa, por exemplo, que o crédito ao consumo seja eliminado ou a sua liquidação seja feita em 30 dias. Tal significa que A Procura adquirirá com os seus rendimentos reais, e que a Oferta a ela se ajustará. Em consequência, a inundação de publicidade será reduzida e a influência do argumento do vendedor conduzida à realidade. De outro modo, defendamos o liberalismo económico mas condenemos o liberalismo financeiro porque produtores de muitas desgraças e manipulador das regras naturais aplicáveis. O que nos conduziria a uma Procura equilibrada nas suas opções e a uma Oferta respondendo a uma Procura real.

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