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Portugal em contraciclo com o Mundo


Por Jorge Fonseca de Almeida - Membro da Ordem dos Economistas nº 1083


Os nossos dirigentes governamentais, as nossas elites económicas, não entendem o mundo, não avaliam os caminhos que a política internacional abrem e fecham, não procuram uma estratégia para o nosso país. O resultado é a estagnação económica, a emigração em massa, o empobrecimento em relação aos nossos competidores, o desastre social.


Recentemente dois temas vieram mostrar a inépcia total do nosso governo. O primeiro é a constatação de que a população empregada aumentou mais de meio milhão de pessoas sem que o PIB tivesse crescido substancialmente como observou certeiramente Armindo Monteiro no seu artigo de 21 de Outubro último (ver aqui).


Uma tal situação só se compreende no quadro de uma enorme baixa de produtividade. Mais gentes produzindo menos (em valor, ie em euros reais) por pessoa conseguem produzir o mesmo do que se produzia com menos pessoas.


Na verdade foi o que aconteceu por via da desvalorização interna conseguida pela menor inflação do país no contexto de uma moeda única (ver recente artigo aqui). Os nossos produtos ficaram mais baratos face à carteira mais recheada de euros dos países da zona euro com maior inflação. Conseguimos exportar mais mas a menor preço real e o PIB real pouco ou nada cresce. Este desastre acontece porque o nosso governo resolveu implementar uma política em contraciclo com a restante zona Euro.


Primeira constatação: a gestão salarial e da inflação foi um desastre. Os trabalhadores perderam poder de compra, as exportações aumentaram mas o PIB não cresceu. Em termos de produtividade ficamos pior, o país atrasa-se em relação aos seus pares. Outra política é necessária: a de aumentos salariais significativos, investimento produtivo e de industrialização.


Segundo tema: o anúncio ufano dos governantes portugueses de que as exportações representam agora mais de 50% do PIB nacional. Num momento em que a globalização está em declínio em que os países procuram internalizar as atividades de maior valor acrescentado, que a reinstrustrialização é a palavra de ordem, em que as preocupações de segurança se sobrepõem ao liberalismo económico, esta política portuguesa vem completamente em contraciclo. Que significa ela para o nosso país? Maior empobrecimento, emigração e atraso. Como?


Na realidade se os outros países estão a chamar a si as cadeias de produção mais importantes, de maior valor, mais estratégicas em termos tecnológicos e importantes em termos de abastecimento do seu mercado, mesmo que sabendo que terão de pagar um preço em termos de maior custo de fabrico (esta é aliás uma das causas da inflação persistente).


Então as suas importações ficarão pouco a pouco restritas aos produtos de menor valor, de menor importância, de menor incorporação tecnológica, aos produtos supérfluos que poderão deixar de ser consumidos a qualquer momento, ou aos produtos que pela abundância de produtores possam ser comprados sem dificuldades mesmos em situações de pandemia, guerra ou outra.


Apostar nas exportações é apostar, pois, nesses produtos de baixo valor. É especializar-se no irrelevante, no arcaico, no que assenta no baixo custo, na mão-de-obra barata, nas tecnologias atrasadas, no que não tem futuro. É isso que estamos a fazer. Novamente a contraciclo. Um desastre.


Enquanto o mundo pula e avança, nós vamos em contraciclo, em marcha atrás. Portugal merece melhor.



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1 Comment


Vallef Rodrigues
Vallef Rodrigues
Jan 05

Muito boa esta reflexão. Em alguns pontos serve também para o Brasil. Mas aqui o governo está falando em reinsdutrialização/neoindustrialização. O problema aqui é o Congresso Nacional, dominado por gente muito incomodada com a pauta de questões de costume, enquanto na economia domina no neoliberalismo. O atual governo tenta fazer alguma coisa, mas o arco de aliança para se livrar do Bolsonaro foi ampla demais da conta e agora o Lula é refém do Congresso. E cá entre nós, parece que o Patido dos Trabalahdores está dividido entre a acomodação e a resistência.

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