Por Jorge Fonseca de Almeida - Membro da Ordem dos Economistas nº 1083
Esta semana Portugal alcançou, finalmente, reconhecimento mundial. Muitos jornais, numerosas rádios, bastantes televisões, inúmeros sites, blogues e podcasts da Europa, da África, das múltiplas Américas e mesmo da mais longínqua Ásia, informaram os seus leitores, ouvintes e espetadores sobre os casos de corrupção no Governo português. A notícia correu mundo, foi comentada em tantas línguas, sempre com o mesmo tom de condenação.
Influentes órgãos de comunicação de alcance internacional como o The Economist, o The Guardian, o Financial Times, o China Daily, o Le Monde, a Folha de São Paulo, etc., etc. todos relataram os acontecimentos. Mas também as agências de análise económica de alcance planetário como a Reuters ou a Bloomberg.
Muitas destas notícias referem a consequente instabilidade económica e a dificuldade de implementação de estratégias económicas sólidas. Alguns órgãos de comunicação estrangeiros referem-se à nossa sociedade como a do "capitalismo da sardinha" devido à excessiva dependência do setor do turismo.
Melhor do que uma ampla e dispendiosa campanha de Marketing o comunicado da Procuradoria-Geral da República colocou Portugal no mapa. Como um país à deriva, como um país com uma elite governante corrupta, como um país a evitar para negócios, onde as empresas estrangeiras que entram (como as do lítio e as das novas tecnologias) acabam envolvidas em negócios obscuros, em processos de corrupção que chegam ao topo da hierarquia do Estado e têm grande visibilidade internacional.
Que consequências advirão desta nova imagem do nosso país? Quem quererá investir no nosso país? Os barões colombianos? Que negócios atrai Portugal com esta imagem? Os mais duvidosos?
Não sabemos se esta imagem tem por base factos e acontecimentos reais ou apenas suspeitas sem fundamento. Só o julgamento o apurará. Mas o mal infligido a todos nós, à nossa economia, à reputação do país, esse mal, está feito. De forma leviana atrevo-me a dizer.
Em Portugal faltam mecanismos institucionais que permitam carrear eventuais provas de corrupção de governantes para órgão adequado - Supremo Tribunal ou outro - sem alaridos públicos. Este órgão confrontaria os infratores e forçaria a demissão desses governantes e só depois os processos se tornariam públicos, o que também ocorreria se estes recusassem sair.
Na verdade, é absolutamente necessário julgar e punir os governantes corruptos. Mas, simultaneamente, é preciso evitar que sejamos todos a pagar por esses crimes. É preciso evitar manchar a reputação de Portugal, país onde a maioria das pessoas é séria, honesta e trabalhadora. A forma de conciliar estes dois interesses ainda não está devidamente compreendida em Portugal. Mas basta olhar para geografias próximas para aprender como devem ser conciliados estes dois objetivos, que só aparentemente são divergentes.
Como em Portugal se não combate, com o vigor necessário, a corrupção esta vai-se infiltrando a todos os níveis do poder político. Como alertámos mais de uma vez, vamos gastar a bazuca do PRR, verbas imensas de fundos públicos europeus, e o país e os portugueses estão a tornar-se cada vez mais pobres. O dinheiro esvai-se para o supérfluo, para o inútil, para o bolso de uns quantos, sem verdadeiramente melhorar a produtividade ou a afluência do povo português. Um desastre.
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