Por Jorge Fonseca de Almeida - Membro da Ordem dos Economistas nº 1083
No xadrez internacional os Estados são os atores principais, desenvolvendo as suas estratégias, militares, económicas e diplomáticas, procurando alcançar os seus desideratos. Mas que objetivos principais perseguem os Estados? A esta pergunta a teoria realista das relações internacionais responde considerando que o valor essencial que procuram alcançar, que o objetivo último de cada nação, de cada Estado é a sua própria sobrevivência. A teoria liberal advoga, em contrapartida, a busca da prosperidade. Estas duas explicações das relações internacionais são atualmente as dominantes no mundo ocidental. Obviamente, na China a visão é diferente, sendo esta assente na visão marxista, ou seja na teoria sobre o imperialismo desenvolvida por Lenine e nas reflexões de Mao / Deng e Xi sobre o tema.
Os Estados Unidos seguem tradicionalmente a teoria realista e exportam para consumo alheio o liberalismo. O realismo advoga que para sobreviver um estado deve acumular o máximo de poder, o liberalismo defende que para prosperar um estado deve envolver-se fortemente no comércio internacional, aumentar a interdependência económica e participar em organizações internacionais. Assim, defendem os liberais, não haverá guerras porque todos dependem de todos.
Hoje começa a ser claro o valor real destas duas teorias. Quando chega o momento de alargar o seu poder os Estados Unidos não hesitam em lançar o seu país e o dos seus satélites na recessão reduzindo a interdependência com os países que consideram seus rivais. No teste de realidade a que assistimos nos últimos anos, os factos e as políticas dão razão aos realistas e lançam o liberalismo no grupo das teorias vazias e falhadas.
Portugal, infelizmente, nunca se inspirou nas teorias marxistas nem nas realistas, antes aderiu, iludido, ao liberalismo inócuo. Hoje é um país em que o PIB está altamente dependente das exportações, isto é uma economia excessivamente interdependente / dependente de terceiros, um país fortemente envolvido em organizações internacionais, como a União Europeia, em que o seu peso é quase nulo. Portugal fez tudo o que o liberalismo advoga.
Ganhámos a prosperidade prometida? Não. Portugal é hoje um país muito pobre e um quase Estado falhado.
Em termos de PIB per capita em paridade de poder de compra é um dos países mais pobres da União Europeia (ver aqui). E dotou-se de um Estado incapaz de garantir a segurança da sua população, de providenciar serviços sociais básicos como a saúde e a educação aos seus cidadãos e de ter uma Justiça célere.
Quando vários cidadãos portugueses são atacados e mortos em Gaza por uma potência estrangeira, o nosso Estado não vai em seu auxílio. Nada faz e limita-se a dizer que morreram, sem a coragem moral de enfrentar os assassinos e exigir explicações. Morreram, dizem, como se fora de morte natural. O que podemos esperar de um Estado que não nos protege e que se verga a terceiros? Que segurança nos oferece? Para que servem as nossas forças armadas e a nossa diplomacia? Nem para retirar uns quantos portugueses de uma zona de perigo iminente? Um falhanço completo. Um completo falhanço em perceber os verdadeiros riscos e em estar preparado para eles.
O liberalismo faliu. É preciso olhar com atenção para as teorias alternativas.
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