Por Jorge Fonseca de Almeida - Membro da Ordem dos Economistas nº 1083
Nas mais pequenas coisas se denota o declínio europeu e o renascimento de outras civilizações antigas. Dois exemplos singelos ajudam a perceber o alcance desta decadência e empobrecimento.
Nas últimas décadas assistimos na União Europeia à substituição do carro e do transporte público pela bicicleta, pela trotinete, pelo tuck-tuck, pela mota. Em contrapartida na China observamos a substituição da bicicleta, do rickshaw, pelo carro, pelo comboio que levita sobre a linha, pelos transportes públicos de última geração. Trajetórias contrárias, uma rumo ao passado e outra dirigida para o Futuro.
Em termos de saúde pela Europa fora fecham os centros de saúde, aumentam as listas de espera, faltam os médicos e o pessoal de saúde. Os fármacos e as vacinas modernos são criados por empresas estrangeiras. Veja-se as vacinas para o Covid. As vacinas administradas na União Europeia foram as da Pfizer (americana) com 650 milhões de doses, a da Moderna (americana) 150 milhões de doses, a Astra Zeneca (inglesa) com 70 milhões de doses e só depois a Johnson & Johnson (americana) com 20 milhões de doses, seguindo-se depois outras com menor número de doses (ver aqui). Na China a vacina mais administrada foi a Sinovac (chinesa). Que contraste. Uma via para a dependência externa e outra para a autossustentação.
Depois da tímida recuperação de 2022 a economia europeia estagna em 2023 e as perspetivas para 2024 não são muito melhores. A China pelo contrário continua a crescer acima dos 3% ao ano.
No Marketing designa-se por Shrinkflation (inflação pela diminuição) quando as empresas sobem os preços de forma subtil reduzindo a dose (o peso, as quantidades) incluída em cada pacote e mantendo o preço. Ou seja o cliente paga o mesmo mas leva menos. Por exemplo: se uma tablete conter 150g de chocolate e custar 0,7€ continua a custar os mesmos 0,7€ mas passa a ter apenas 100g. Um aumento de 50%! Um aumento que passa, muitas vezes, desapercebido se o consumidor não estiver atento.
Este conceito está a aplicar-se em larga escala às sociedades da União Europeia no que toca aos serviços públicos. Na saúde pelo mesmo preço (pelos mesmos impostos) o produto que recebemos encolhe. As maternidades fecham e os médicos são substituídos por parteiras. A capacidade de resposta das urgências diminuem e as pessoas morrem à porta dos hospitais. O SNS parece o mesmo de sempre mas reduziu-se fortemente.
Na educação repete-se este fenómeno. O edifício é o mesmo, o embrulho é igual ao dos anos anteriores, mas não há professores suficientes, e as competências dos docentes diminuem, porque os melhores desistem da profissão. Os equipamentos indispensáveis à aprendizagem moderna, como os computadores, não são substituídos nem reparados. Para os pais tudo parece na mesma mas os filhos sairão do ensino com menores competências.
A Shrinkflation é a estratégia da União Europeia para o declínio económico. É importante percebê-lo nas próximas eleições para o Parlamento Europeu. Para que se possa contrariar esta estratégia suicida.
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